Alguns temas são essenciais no mercado financeiro, e quanto menor o prazo operacional, maior a importância do fluxo de ordens e da microestrutura de mercado.
Esse é o primeiro texto de uma sequência em que abordarei como o preço realmente se forma: não apenas nos gráficos, mas na movimentação de cada tick de preço. Além disso, também vou abordar a importância desses conceitos para o médio e longo prazo.
Trata-se de um tema com pouquíssima literatura em português, embora seja amplamente estudado e documentado nos mercados norte-americano e europeu. Lá fora, a microestrutura é considerada a base do trading moderno, influenciando desde estratégias de alta frequência até decisões de fundos quantitativos e market makers.
Meu objetivo com essa série é traduzir esse universo técnico para o contexto brasileiro, mostrando como o fluxo de ordens, a liquidez e o comportamento institucional moldam o preço em tempo real.
Mais do que teoria, quero apresentar a lógica prática por trás do movimento dos preços, os sinais escondidos no book, a movimentação e os tipos de algoritmos e como o trader pode interpretar essas dinâmicas para encontrar o seu edge.
Quando olhamos para um gráfico, vemos apenas o resultado final de algo muito mais complexo: uma sequência contínua de decisões, intenções e interações entre milhares de participantes. Cada candle, cada variação de preço, é o reflexo de ordens sendo enviadas, executadas, canceladas e redistribuídas em um sistema que chamamos de microestrutura de mercado.
A microestrutura é o estudo do mecanismo de formação de preços, ou seja, das regras e interações que determinam como uma negociação ocorre dentro da bolsa.
Ela analisa o “mercado dentro do mercado”: o funcionamento do livro de ofertas, os tipos de ordens, o comportamento da liquidez ativa e passiva, os custos de transação, o impacto de mercado e as estratégias de execução que conectam compradores e vendedores.
De forma prática, o preço não é um número: é o ponto em que duas intenções opostas coincidem.
Toda vez que um comprador aceita o preço de um vendedor (ou vice-versa), há um match, processado pelo matching engine da bolsa.
O fluxo de ordens é o reflexo visível desses movimentos.
Cada agressão registrada no Times & Trades conta uma história sobre quem está disposto a pagar o preço atual e quem está defendendo níveis de liquidez.
No curto prazo, na maioria das vezes, o preço não se move por notícia ou fundamento: ele se move porque houve desequilíbrio entre ordens ativas e passivas.
Necessidade de execução gera impacto de preço. Lembrem-se disso.
Quando a agressão de compra supera a liquidez de venda, o preço sobe; quando a agressão de venda esgota os compradores, o preço cai.
O estudo da microestrutura busca quantificar exatamente como esse desequilíbrio se propaga.
Já ouviram aquela máxima: “o preço subiu porque existem mais compradores”?
Então, isso está totalmente errado. Nesse caso, o impacto marginal de uma ordem de compra foi maior que a liquidez disponível na venda. Simples assim.
A microestrutura explica o que está por trás de cada candle.
Uma sequência de candles de alta, por exemplo, pode ser o reflexo de uma série de agressões pequenas em regiões de baixa liquidez.
O trader que olha apenas o gráfico vê tendência; o trader que entende fluxo vê pressão de liquidez e impacto transitório de preço.
São leituras totalmente distintas.
O cenário seria totalmente diferente se essas agressões fossem persistentes e com lotes cada vez maiores (isso é assunto para um próximo texto).
O mercado não busca um preço justo, ele busca equilíbrio.
O price discovery é esse processo contínuo em que ordens entram, testam níveis e revelam onde há aceitação e rejeição de preço.
Entender o fluxo é entender como o mercado descobre valor.
O book mostra apenas as primeiras camadas de preço.
Mas a liquidez real é mais profunda: há ordens escondidas, ordens condicionais e algoritmos que atualizam posições automaticamente.
É por isso que o fluxo aparente nem sempre conta toda a história: ele é apenas a ponta visível naquele momento.
Nos bastidores, quem define o ritmo do fluxo não são os traders individuais, mas os grandes participantes institucionais: fundos, bancos e algoritmos de execução.
Eles ajustam a liquidez de acordo com seus objetivos, mascaram volume para reduzir impacto e fragmentam ordens entre múltiplos ativos e vencimentos.
Entender como esses participantes se movimentam é o primeiro passo para compreender o que realmente move o preço e onde o varejo entra atrasado(e vira liquidez).
A microestrutura é a base de boa parte das minhas decisões, espero conseguir compartilhar com vocês o máximo possível nos próximos artigos.
Se gostaram desse artigo, deixem um like e um comentário. Vamos debater as dúvidas por lá.
SUGESTÕES PARA OS PRÓXIMOS ARTIGOS SÃO BEM-VINDAS.
Obrigado,
João Ascoli






Muito bom João, assunto importante com muito poucos textos sobre essa abordagem.
Obrigado João, por compartilhar seu conhecimento com agente
Aguardo assioso os próximos testos
Show João, vou seguir ansioso na espera dos proximos artigos sobre o assunto, parabéns !!!
Muito bom João, espero novos conteúdos sobre o assunto, abraço!
Muito bacana, tenho acompanhado muito a evolução do tempo agressiva e passiva, bem mais a agressiva para acompanhar o fluxo e isso já tem ajudado bastante.