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Jonhson Controls, reinventando-se para continuar.

Olá Clube Investfy!

Hoje vamos falar um pouco sobre a Jonhson Controls ( NYSE: JCI), empresa que vem transformando a industria há 140 anos.

Se os produtos da Eaton são comparáveis ao sistema circulatório (responsável por distribuir energia e fluídos vitais), os produtos da JCI para data centers podem ser comparados ao sistema nervoso, pois  assim como o sistema nervoso monitora, regula e coordena as funções do corpo humano, os sistemas da JCI monitoram e controlam o ambiente interno dos data centers.

1- Como a empresa ganha dinheiro?

A Johnson Controls é líder global em soluções para edifícios inteligentes, seguros, saudáveis e sustentáveis. Seu modelo de negócios é baseado em:

  • Venda de produtos e sistemas: HVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado), sistemas de segurança, detecção e supressão de incêndios, automação predial e refrigeração industrial.
  • Serviços técnicos: manutenção, retrofit, consultoria em eficiência energética e soluções digitais (OpenBlue).
  • Receita recorrente: contratos de longo prazo para manutenção e serviços digitais.

A empresa opera em três regiões: Américas, EMEA e APAC, com forte presença global e uma base instalada robusta, o que favorece a geração de receita recorrente via serviços.

2- Alguns números e comparação com pares internacionais:

  • Market Cap: ~$47 bi (estimado com base em 654 mi ações x ~$72)
  • FCF anualizado (ajustado): ~$2,4 bi
  • P/FCF: ~19,6x
  • Dívida líquida/EBITDA ajustado: 2,5x (dentro do intervalo-alvo da empresa)

A empresa não está barata, mas também não está excessivamente cara, considerando a qualidade do negócio e a previsibilidade de caixa.

Comparando JCI com os pares, vemos a empresa com menor rentabilidade e  precificada com multiplos mais elevados. Para estes multiplos se justificarem, o novo plano de negócios da empresa precisa se materializar.

3- Gatilhos de crescimento e linha do tempo dos próximos 12 meses:

  •  Implementação de um novo “business system” baseado em princípios Lean, 80/20 e digitalização/IA.
  • Venda da unidade de HVAC Residencial e Comercial Leve para a Bosch por $8,1 bi (fechamento em Q4 FY25), com uso dos recursos para recompra de ações.
  • Expansão no segmento de data centers (10% da receita, com forte crescimento).
  • Aumento de investimentos em P&D e inovação (8.200 patentes).
  • Fortalecimento da força de campo (40 mil colaboradores), com foco em produtividade e tempo com clientes.
  • Aumento da penetração de serviços e soluções digitais (OpenBlue), com foco em receita recorrente.

4- Resfriamento líquido: uma espada de dois gumes

Com a explosão da Inteligência Artificial e da computação de alto desempenho (HPC), os data centers modernos enfrentam desafios térmicos sem precedentes. Métodos tradicionais de resfriamento a ar estão chegando ao limite diante de servidores cada vez mais densos e chips que consomem centenas de watts. Hoje, o resfriamento líquido desponta como solução para manter esses sistemas estáveis e eficientes.

No resfriamento líquido, utiliza-se um fluido refrigerante (água ou dielétrico especial) para absorver calor diretamente dos componentes de TI, em vez de apenas resfriá-los indiretamente com ar. As soluções líquidas geralmente se dividem em duas categorias principais:

Por que o interesse agora? Porque 40% ou mais da energia de um data center pode ser gasta apenas em refrigeração por ar. Com racks ultrapassando 30 kW e chips de IA consumindo quase o dobro de energia de gerações anteriores, as soluções a ar não conseguem manter temperaturas seguras sem gastar muita eletricidade e água. Líquidos, por terem capacidade térmica e condutividade muito maiores que o ar, removem calor de forma muito mais eficiente, abrindo caminho para data centers mais densos e sustentáveis. Grandes operadores já notam que, sem inovações, o consumo de energia dos data centers pode dobrar até 2030 (em grande parte devido à IA). Nesse cenário, o resfriamento líquido surge não apenas para ganhos de eficiência, mas também como resposta à urgência ambiental e limitações físicas das instalações atuais

Ser lider nesta mudança tecnológica de resfriamento nos Data Centers, é vital para JCI. A compra da Silent Air, mostra que a empresa está atenta a esta mudança estrutural.

5- Outras ameaças e riscos

  • Exposição a riscos geopolíticos e macroeconômicos (China, tarifas, inflação).
  • Litígios ambientais (PFAS/AFFF): embora o acordo de $750 mi com sistemas de água tenha sido concluído, ainda há riscos com ações de estados, indivíduos e tribos indígenas.
  • Incidente de cibersegurança em setembro de 2023 — impacto limitado, mas destaca vulnerabilidades.
  • Segmentos de Fire & Security com crescimento e margens mais modestas.
  • Reestruturação em andamento (custo estimado de $400 mi até 2027) — execução será chave.

 

Conclusão

A Johnson Controls apresenta características de um negócio de qualidade: forte geração de caixa, presença global, base instalada relevante e foco crescente em serviços e soluções digitais. A venda da unidade de HVAC residencial é um movimento estratégico acertado, que simplifica o portfólio e libera capital para retorno ao acionista.A execução do novo sistema de gestão e a resolução dos litígios ambientais serão determinantes para a continuidade da tese. 

A empresa não está em “liquidação”, mas se conseguir acelerar a receita proveniente de hyperscales ao passo que implementa forte redução de custos, poderá se tornar uma alternativa interessante.

Por enquanto, sigo observando apenas.

Abraço, 

Rodrigo Silveira

Contribuidor

Escrito por Rodrigo Silveira

Executivo com mais de 20 anos de experiência profissional nos segmentos de Tecnologia, Automotivo, e Alimentício em empresas como BMW, Amazon, Nestlé e Microsoft. Engenheiro Mecânico com MBA em gestão de Negócios e Value Investing, invisto em ações desde 2016 com viés fundamentalista e buscando assimetrias de longo prazo.

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2 Comentários

  1. Interessante a questao do custo de energia com resfriamento… Certamente a pauta do custo de eficiencia de chips e de data-centers estará muito conectada com o custo de energia dispendida mes a mes, principalmente com as previsões de explosão de inflação na energia. Vamos ver como os EUA vão se virar neste quesito de eficiencia de consumo energetico em data-centers. Isto precisará evoluir rapido!