Há muitos anos, Benoit Mandelbrot apresentou uma crítica que, até hoje, a maior parte do mercado ignora: os preços dos ativos não seguem distribuições normais, não se movem de forma suave e não respeitam as premissas que sustentam diversos modelos tradicionais.
Ele mostrou, com dados, que o mercado é fractal:
tem caudas pesadas, saltos, rupturas, volatilidade que se agrupa em blocos e padrões que se repetem em múltiplos horizontes de tempo.
E isso muda tudo.
A visão Tradicional:
Modelos convencionais partem de três premissas:
Retornos são normais
Eventos extremos são raros
Movimentos são independentes ao longo do tempo
Na prática, nada disso se confirma.
Nos dados reais, seja no IBOV, DI, minério, petróleo, dólar, nos mostra o seguinte:
Distribuições com caudas grossas, onde eventos extremos são parte da regra
Clusterização de volatilidade
Persistência: movimentos fortes tendem a continuar
Saltos e disrupções, que quebram qualquer suavidade imaginada pela teoria
Mandelbrot foi o primeiro a organizar tudo isso sob uma teoria consistente.
A visão fractal: mercados em múltiplas escalas
Mandelbrot descreve o mercado como uma geometria fractal:
“Padrões que se repetem em janelas diferentes: 5 minutos, diário, semanal, anual”
Essa autossimilaridade explica:
Por que tendências fortes em commodities duram meses
Por que o fluxo estrangeiro cria regimes persistentes no IBOV
Por que choques políticos alteram regimes de volatilidade no DI
Por que o dólar em mercados emergentes tem longos períodos de calmaria e explosão
O mercado não “normaliza”: ele muda de regime.
A volatilidade não é constante, ela se contagia
Um dos pontos mais poderosos da teoria:
“Volatilidade gera volatilidade”
Períodos tensos antecipam mais tensão, períodos calmos atraem mais calma.
Isso, também, é traduzido através do posicionamento de volatilidade implícita do mercado
Esse comportamento explica melhor o mercado brasileiro do que qualquer modelo:
Taxa de Juros: estresse fiscal → mais vol → maior sensibilidade → mais estresse
Commodities: rallys longos → trades crowdeados→ disrupções violentas
Ações: fluxo coordenado cria ciclos, não ruído aleatório
Isso é fractalidade aplicada ao dia a dia.
O risco real está nas caudas
Mandelbrot mostrou que o mercado segue distribuições que permitem:
Caudas pesadas
Assimetria
Movimentos abruptos
Ausência de variância finita em muitos casos
Isso explica por que:
O IBOV pode cair 5% em um dia e não ser “improvável”
O petróleo pode mover US$ 4 em minutos
O DI pode abrir 30bps em um único evento
Moedas emergentes sofrem saltos instantâneos
Esses eventos não são exceções. São parte da estrutura.
Por que isso importa para você como investidor ou trader
A consequência prática:
• Risco é não-linear
Modelos lineares subestimam justamente aquilo que mais importa: as caudas.
• Tendências existem e são mais fortes do que parecem
A persistência fractal explica a eficácia de modelos de trend following
• Diversificação tradicional é frágil em eventos de cauda
Em eventos extremos, correlações convergem.
• Liquidez evapora em movimentos abruptos
Microestrutura e fractais caminham juntos: não há suavidade no impacto das ordens.
• Gestão de risco precisa ser dinâmica
Stops fixos, alocações fixas e suposições constantes não funcionam em mercados que mudam de regime.
O mercado não é uma linha suave.
Ele é uma estrutura caótica, fractal, com padrões que se repetem e caudas que importam mais do que o centro da distribuição.
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João Ascoli






Como de costume um post do JA para ler várias vezes e refletir a profundidade, são várias aulas num post. Parabéns e vamos seguir que amanhã terá pregão.
Excelente João! Muito obrigado por compartilhar!
Mais um artigo fantástico, tecnicamente gosto muito de acompanhar o indicador adx e como ele contamina os fractais a medida que a tendência evolui. E realmente os eventos de cauda fazem muito peso no resultado principalmente se estiver alavancado, velocidade na tomada de decisão e capacidade de se readaptar é fundamental.
Brasil não é pra amadores, essa frase casa muito bem com sua explanação. Muito bom João.
Muito bom!!! Obrigado por compartilhar
Parbéns e obrigado pelo excelente artigo!
Excelente!
Excelente texto para entender sobre os fractais, meu aprendizado de leitura gráfica começou com fractais, mais um aprendizado na conta.
Bem interessante. Obrigado!
Muito João, muito bom, gosto muito do assunto, ótimo texto (venham os próximos)
Excelente… Preciso estudar mais isso aí. Obrigado por compartilhar João, abs.
Ambos produzem fenômenos “não-Gaussianos”, mas por mecanismos diferentes.
O primeiro explica cisnes negros pela própria distribuição.
O segundo explica cisnes negros pela dinâmica.
Mas teoricamente, sim — o mercado tem estrutura fractal, dinâmica intermitente, clusters de volatilidade e caudas que importam mais que a média.
E modelos Lévy (ou fractais) capturam isso de forma elegante.
🔹 (1) Manter i.i.d., mas usar uma distribuição de Lévy estável, com α < 2
– Caudas naturalmente pesadas
– Eventos extremos com probabilidade significativamente maior
🔹 (2) Quebrar a independência usando processos com memória / regimes
– GARCH, Heston, HAR, modelos de volatilidade em clusters
– Switching regimes, volatilidade persistente etc.
Concordo totalmente com a ideia central:
mercados reais não seguem uma dinâmica suave e estacionária, e caudas, clusters de volatilidade e regimes têm impacto muito maior do que os modelos clássicos sugerem.
Só acrescento um detalhe técnico:
A crítica moderna ao Browniano não depende necessariamente de abandonar a hipótese i.i.d.
Há dois caminhos bem distintos para produzir fat tails: