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Sem Minerais, Sem Poder: A Guerra Fria dos Minérios

A relação comercial entre os EUA e a China tem se deteriorado, especialmente em tecnologia e minerais críticos. Em dezembro de 2024, a China retaliou contra restrições americanas a semicondutores, impondo embargos e controles mais rígidos sobre exportações de minerais, conforme relatado em China bans exports of gallium, germanium, antimony to US. Simultaneamente, os EUA buscaram diversificar suas fontes, culminando no acordo com a Ucrânia, que visa explorar recursos minerais para reduzir a dependência de importações, especialmente da China.

Que São Minerais Raros e Qual é a Diferença para os Minerais de Terras Raras?

Antes de adentrarmos nos detalhes do embargo e do acordo, é essencial esclarecer o que são minerais raros e como eles diferem dos minerais de terras raras. Minerais raros, ou mais precisamente minerais críticos, são aqueles que são economicamente importantes para a indústria, defesa ou tecnologia, mas que enfrentam riscos de suprimento devido à sua escassez, à concentração de produção em poucos países ou a desafios ambientais e sociais associados à sua extração. Esses minerais incluem materiais como cobre, zinco, alumínio, além de outros menos comuns, como lítio, grafite e terras raras. Sua importância está na sua aplicação em tecnologias modernas e na segurança nacional, mas sua disponibilidade pode ser limitada por fatores geopolíticos ou logísticos.

Por outro lado, os minerais de terras raras são um grupo específico de 17 elementos químicos, que incluem 15 lantânidos (como neodímio e cério), mais o ítrio e o escândio. Apesar do nome sugestivo de “raras”, esses elementos não são necessariamente escassos na crosta terrestre, mas são difíceis de extrair e processar devido à sua dispersão e à complexidade dos métodos de separação. As terras raras são fundamentais para a fabricação de produtos de alta tecnologia, como ímãs permanentes usados em motores elétricos, turbinas eólicas e dispositivos eletrônicos, além de catalisadores e ligas especiais. A distinção é importante porque, embora as terras raras sejam um subconjunto de minerais críticos, o termo “minerais raros” abrange uma gama mais ampla de materiais além das terras raras. No contexto do embargo chinês e do acordo EUA-Ucrânia, ambos os termos são relevantes, pois o acordo abrange diversos minerais críticos, incluindo, mas não se limitando a, terras raras.

O Embargo Chinês: Minerais Afetados e Impacto

O embargo imposto pela China inclui a proibição de exportações de gálio, germânio e antimônio para os EUA, além de controles mais rigorosos sobre o grafite. Esses minerais são essenciais para várias indústrias:

  • Gálio: Utilizado em semicondutores, LEDs e eletrônicos de alta velocidade.
  • Germânio: Essencial para fibras ópticas, óptica infravermelha e células solares.
  • Antimônio: Empregado em retardantes de chama, baterias de chumbo-ácido e ligas.
  • Grafite: Crítico para anodos em baterias de íons de lítio, lubrificantes e refratários.

Além disso, há tensões em torno das terras raras, embora não haja um embargo total. A China detém uma posição dominante na produção global desses minerais, o que lhe confere significativa alavancagem geopolítica. O impacto desse embargo é profundo para os EUA, pois aumenta os custos e os riscos associados à dependência de importações para setores críticos como tecnologia, defesa e energia renovável. Isso destaca a necessidade de diversificar as fontes de suprimento, o que é um dos objetivos centrais do acordo com a Ucrânia.

Necessidade dos EUA e Aplicabilidades dos Minerais

Os EUA dependem de importações para a maioria dos minerais críticos, com a China sendo uma fonte dominante para muitos deles. Esses minerais são vitais para diversas áreas:

  • Tecnologia: Semicondutores, baterias, eletrônicos.
  • Defesa: Sistemas de armas, aeronaves, equipamentos militares.
  • Energia: Transição para veículos elétricos (EVs), energias renováveis e armazenamento de energia.

Especificamente, os minerais em questão têm as seguintes aplicações:

  • Terras Raras: Usadas em ímãs para motores elétricos, turbinas eólicas e dispositivos eletrônicos.
  • Lítio: Essencial para baterias de íons de lítio em EVs e eletrônicos.
  • Níquel: Utilizado em aço inoxidável e baterias.
  • Grafite: Crítico para baterias de íons de lítio.
  • Titânio: Empregado em aplicações aeroespaciais e de defesa.
  • Urânio: Combustível para usinas nucleares.
  • Gálio, Germânio e Antimônio: Essenciais para semicondutores, fibras ópticas e eletrônicos avançados.

A dependência dos EUA em relação a esses minerais sublinha a importância de garantir fontes alternativas e seguras, especialmente em um cenário de tensões geopolíticas crescentes.

O Acordo EUA-Ucrânia

O acordo entre os EUA e a Ucrânia, assinado em 30 de abril de 2025, visa explorar os recursos minerais da Ucrânia para reduzir a dependência americana de importações de minerais críticos. O acordo estabelece o “United States-Ukraine Reconstruction Investment Fund”, que será financiado por royalties de minerais ucranianos, com os EUA tendo acesso preferencial a projetos minerais, conforme detalhado em Breaking Down the U.S.-Ukraine Minerals Deal. Os minerais incluídos no acordo abrangem uma ampla gama, incluindo terras raras, lítio, níquel, grafite, titânio e urânio. A Ucrânia possui reservas significativas desses minerais, embora muitos depósitos estejam localizados em áreas afetadas pela guerra ou sob controle russo.

No entanto, o acordo enfrenta desafios significativos:

  • Tempo: Projetos minerais podem levar de 10 a 20 anos para se tornarem operacionais.
  • Infraestrutura: A guerra danificou a infraestrutura crítica, exigindo investimentos massivos.
  • Segurança: Cerca de 40% dos recursos metálicos da Ucrânia estão em áreas ocupadas pela Rússia.

Além disso, a Ucrânia carece de dados geológicos atualizados e de capacidade de processamento, o que adiciona complexidade ao desenvolvimento desses recursos. Em termos de quantos % das necessidades dos EUA poderiam ser atendidas, é difícil quantificar precisamente devido à natureza inicial do acordo e aos desafios mencionados. Por exemplo, as reservas de lítio da Ucrânia representam cerca de 1,7% das reservas globais, mas a produção real depende do desenvolvimento bem-sucedido desses projetos. Da mesma forma, os depósitos de terras raras são promissores, mas carecem de dados detalhados e infraestrutura. Os benefícios do acordo são esperados para se materializarem apenas após 2035, com impacto inicial limitado até 2030.

Implicações para Investidores, Setores e Grandes Empresas

O embargo chinês e o acordo EUA-Ucrânia têm implicações significativas para investidores e empresas em vários setores:

Investidores devem monitorar o progresso do acordo EUA-Ucrânia, considerando os riscos geopolíticos e as oportunidades em exploração mineral. Empresas envolvidas na exploração e processamento de minerais em países aliados podem se beneficiar da diversificação das cadeias de suprimento. Setores como tecnologia, automotivo, defesa e energia são particularmente afetados. Empresas que dependem de semicondutores e eletrônicos avançados enfrentam riscos devido à escassez de gálio, germânio e outros minerais, enquanto a indústria de EVs requer grandes quantidades de lítio, grafite e níquel, tornando-a sensível a interrupções na cadeia de suprimento. A dependência de titânio, urânio e terras raras para equipamentos militares sublinha a necessidade de fontes seguras, e a transição para energias renováveis e nuclear depende de minerais como urânio e terras raras para turbinas eólicas.

Grandes empresas como Tesla, Apple e Boeing, que dependem de minerais críticos, podem precisar ajustar suas estratégias de suprimento. Além disso, empresas de mineração e processamento de minerais podem ver oportunidades em regiões como a Ucrânia, Canadá e Austrália.

Em resumo, embora o acordo EUA-Ucrânia seja um passo estratégico para reduzir a dependência dos EUA da China em minerais críticos, seus benefícios são de longo prazo e sujeitos a significativos desafios. Investidores e empresas devem navegar cuidadosamente pelas incertezas geopolíticas e econômicas enquanto buscam posicionar-se para o futuro.

Iniciante Observador

Escrito por Jean Botelho

Cirurgião de Formação.
Amante de mercados em geral, com foco no mercado Americano.

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